quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Infinito Particular

Nada como mais um dia comum. Gosto de dormir até o último segundo possível (o que costuma significar uns 15 minutos de atraso), me arrumar rapidamente em mais uns 20 minutos e me jogar no tão prazeroso, vagaroso e incompreensível transito de São Paulo.

Uma cidade com aproximadamente 20 milhões de pessoas, com os maiores centros tecnológicos do país, com cerca de 12% do PIB do Brasil e com muito mais coisa que eu me cansaria de citar, deve possuir um sistema de transito bem dimensionado, bem planejado, com transporte coletivo de qualidade, não? Ene a ó tio, não! Hoje em dia o transito é disparado um dos maiores desconfortos de quem mora nesta megalópole, e com um agravante, só tende a piorar. A cada mês, recordes de vendas em concessionárias são batidos e nossas redes de metrô, trem e ônibus não crescem proporcionais as nossas necessidades.

Hoje vindo ao trabalho, me deparei entre primeiras, segundas e terceiras (marchas), que estava fisicamente dentro do meu carro, porém em com pensamento muito longe, quase que em um universo paralelo. Reparei que realmente eu estava muito longe da realidade, e quando olhei para os lados tive a percepção de que isso não só acontecia comigo, mas que cada um estava dentro de um universo particular protegidos por algumas centenas de quilos de metais e quatro rodas. Alguns somente com olhar distante, outros cantando felizes músicas que faziam lembrar algum momento prazeroso, outros no telefone celular e ainda havia alguns que tentavam ler livros e jornais durante esse anda e para infinito.

É muito curioso como o ser humano tem a capacidade de estar fisicamente em um lugar, porém com a mente e espírito a anos luz de distância. E como tudo na vida, isso pode ser bom ou ruim. Creio que essa capacidade de viajar sem sair do lugar, em meio a um trânsito caótico foi uma alternativa inconsciente que nossos cérebros encontraram para esquecer a realidade triste e revoltante de passar 2, 3 ou mais horas parado em meio a selva de pedra e ares não tão puros.

Aos que não embarcam nessa viagem metal, meus sentimentos. É muito fácil conseguir diferenciar quem são os que não entram na brisa, são aqueles que buzinam sem parar, que xingam todos ao seu redor, que tenta ser espertinho e te ultrapassar pela direita para chegar dois carros na tua frente. É totalmente compreensível que as pessoas que não conseguem esquecer a dura realidade, surtem. Brigas de trânsito são as conseqüências finais destes atos.

Eu, com certeza, faço parte dos viajantes do asfalto. Cada dia viajo para um lugar, cada vez faço contato com amigos imaginários que há tempos não conversava. Vai me dizer que tem melhor hora para refletir do que as 2 horas que você não faz absolutamente nada dentro de um automóvel? Também aproveito muito para rezar, creio que deve existir algum santo padroeiro dos trânsitos caóticos que nos escuta. Basta colocar o motorista no piloto automático. O destino sempre é traçado pela trilha sonora, que assim como um guia experiente no ramo, me recorda de todos os pontos turísticos que posso ainda conhecer.

É lógico que essas viagens, para os mais inexperientes podem trazer algumas conseqüências maléficas, como alguns espelhos quebrados, alguns xingamentos e algumas batidinhas de leve por distração, mas no momento que você ganha seu cartão de fidelidade, você consegue conciliar as duas realidades perfeitamento.

Tudo é válido para melhorar sua qualidade de vida, apertem o cinto que o piloto sumiu. Have a safe and nice trip.

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